"Militares só içam bandeira das quinas"

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Defesa. Nova polémica com o Estatuto dos Açores

Símbolos regionais fora das unidades castrenses, assegura Jorge Miranda

O hastear de bandeiras regionais dentro de instalações militares., prevista no novo Estatuto dos Açores, "é claramente inconstitucional", declarou ontem ao DN o constitucionalista Jorge Miranda.

O novo Estatuto açoreano fez reavivar a chamada "guerra das bandeiras", que começou há uns anos na região autónoma da Madeira e foi considerada ilegal. Agora, conforme noticiou ontem o Público, o teor daquele documento já levou as autoridades militares colocadas nos Açores a pedir orientações superiores sobre o que fazer.

Uma alta patente militar ouvida ontem pelo DN, lembrando que o Estatuto dos Açores "ainda não foi publicado", adiantou que "as Forças Armadas são unas" e não podem agir de forma diferente consoante as unidades militares estejam sedeadas no Minho ou nas regiões autónomas.

"Parece-me perfeitamente evidente", enfatizou Jorge Miranda, a inconstitucionalidade de qualquer artigo do Estatuto dos Açores (ou da Madeira, para o caso) a determinar o hastear da bandeira regional em unidades militares localizadas naqueles arquipélagos.

"As unidades militares são a expressão directa da soberania do Estado, da sua integridade, pelo que só a bandeira nacional aí pode ser hasteada", frisou, taxativo, Jorge Miranda, considerado um dos pais da Constituição. "Em nenhum país do mundo, mesmo em Estados federais como os EUA ou o Brasil, se imagina ter bandeiras" estaduais ao lado da bandeira nacional dentro das instalações militares, declarou ainda Jorge Miranda.

Segundo o constitucionalista, "mesmo em unidades das forças de segurança" só deve ser hasteada a bandeira nacional, embora, neste ponto, Jorge Miranda não tenha sido tão taxativo como relativamente à situação das unidades militares.

Perspectiva diferente tem Guilherme Silva, deputado do PSD/Madeira no Parlamento nacional que está de acordo com o líder do Governo açoreano, Carlos César. "Não há mal nenhum, antes pelo contrário. Há uma realidade na nossa Constituição que são as autonomias políticas da Madeira e dos Açores, portanto, acho que o hastear das bandeiras das regiões é um sinal dessa realidade constitucional, sem prejuízo da unidade nacional, e que a presença da bandeira portuguesa nesses estabelecimentos naturalmente consagra e confirma", disse ao DN.

Recorde-se que quem lançou a chamada "guerra das bandeiras" foi Alberto João Jardim. Uma história longa e reavivada a poucas semanas da visita oficial de Cavaco Silva à Madeira (Abril 2007). Nessa altura, o grupo parlamentar do PSD/M voltou a lançá-la. O projecto de resolução dos sociais-democratas denunciava "a situação de desobediência qualificada em que incorrem os órgãos da República que não cumprem o dever legal de hastear a bandeira da região autónoma" - leia-se instituições dependentes do poder central, como o Palácio de São Lourenço (sede do comando da Zona Militar da Madeira e residência oficial do representante da República), a Capitania do Porto do Funchal ou a Fortaleza do Pico. Com LÍLIA BERNARDES, Funchal

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